sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Humano, demasiado Humano!

"(...)Nietzsche, sentado de pernas cruzadas na cadeira em frente de Breuer, dava pancadas no caderno com o lápis para enfatizar as palavras. - Essa preocupação com meus sentimentos era o que eu temia; precisamente por essa razão, recomendei que não revelasse mais do que o necessário para minha compreensão. quero ajudá-lo a se expandir e crescer, não enfraquecê-lo pela confissão de suas falhas.
- Mas, professor Nietzsche, aqui temos uma importante área de discordância. Aliás, na semana passada discutimos exatamente este assunto. Tentemos chegar a uma conclusão mais cordial desta vez. Lembro-me de que falou, além de ter lido em seus livros, que todos os relacionamentos devem ser entendidos com base no poder. Porém, isso simplesmente não é verdade no meu caso. Não estou competindo: não me interessa derrotá-lo. Quero apenas sua ajuda para recapturar minha vida. A balança do poder entre nós - quem vence, quem perde - parece trivial e irrelevante.
- Então por que, doutor Breuer, se sente envergonhado por ter me revelado suas fraquezas?
- Não por ter perdido alguma competição contra você! O que importa isso? Sinto-me mal por apenas uma razão: valorizo sua opinião a meu respeito e temo que, após a sórdida confissão de ontem, já não tenha uma impressão boa de mim! Consulte sua lista - Breuer apontou o caderno de Nietzsche. - Lembre-se do item sobre o ódio por mim mesmo... item três, acredito. Depois, me odeio ainda mais por me ver isolado de outras pessoas. Para poder alguma vez romper este círculo vicioso, terei que aprender a me revelar para os outros!
- Talvez, mas observe - Nietszche apontou para o item 10 de seu caderno. - Aqui, você diz que se preocupa demais com as opiniões de seus colegas. Conheci muitas pessoas que não gostam de si mesmas e tentam superar isso persuadindo primeiro os outros a pensarem bem delas. Feito isso, elas começam a pensar bem de si próprias. Mas essa é uma falsa solução, isso é submissão à autoridade dos outros. Sua tarefa é aceitar a si mesmo, não encontrar formas de obter minha aceitação. "


In Quando Niezsche Chorou
Irvin D. Yalom

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