sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Para não esquecer

Sentirei falta desses dias.
Sentada no computador, o irmão mais novo tocando violão, o outro caçula no outro computador dando risada esporadicamente..
Engraçado como a vida chegou a um ponto onde nossas vidas se encontraram. Falamos sobre as mesmas coisas, falamos a mesma língua.
Durante o almoço, nós assistímos os mesmos episódios do mesmo seriado já visto mais ou menos trezentas milhões de vezes. Me orgulho a cada piada que entendem, e todo dia me surpreendo com como aprendem rápido e com como são tão melhores do que eu quando se diz respeito a saber ser doce e leve.
Dedicados, aprenderam a tocar instrumentos quase que do dia pra noite. Vão às aulas sozinhos, nunca reclamam se está chovendo e tem de molhar o tênis ou o cabelo. Riem das minhas piadas talvez até por piedade, mas riem com sinceridade. Imagino que seja motivo de sorriso ver que estou confortável e de bom humor o bastante para tentar ser engraçada. Mal sabem eles que o motivo são os próprios!
Ficamos a maior parte do dia sozinhos em casa, mas eles têm sempre compromissos a cumprir. Eu fico por aqui mesmo, quando faço algo é porque inventei para me tirar do ócio.
Durante a tarde é gostoso, às vezes o menorzinho dorme, o que me espanta, porque ele só estava acordado há 1 hora, e eu e o maior achamos graça disso. Outro dia eu fiquei dando umas chacoalhadas no travesseiro dele pra ver se acordava mas ele me convenceu de que nada que eu fizesse ia adiantar.
De noite quando o nosso cãozinho chega do SPA, nós o deixamos aqui no quarto conosco. Depois de uns 15 minutos fazendo sons estranhos para qualquer um que visse de fora, fazendo comentários sobre o quanto ele é bonitinho e rindo sobre isso, nós o deixamos em paz na bacia onde dorme ou no nosso colo.
De repente o irmãozinho começa a tocar de novo uma música na guitarra e o outro começa a acompanhar no violão enquanto não compra seu baixo novo. Eu fico boba ouvindo, contente por dentro, sabendo que quando tiver de ir embora meu coração vai sentir em cada batida a falta que isso vai me fazer.

Há um tempo eu tinha que fugir de casa para me sentir bem. Foram tempos difíceis e eu procurava outros lugares pra me sentir em um lar. Meus dois irmãozinhos me trouxeram de volta o aconchego, a paz e a leveza que um dia em casa deve ter.
É muito bom saber o que é amar alguém e se preocupar com ele como se fosse parte de você. Melhor ainda quando você se orgulha dessa pessoa. Eu tenho 2 irmãos mais novos com quem tenho podido passar muito tempo. Tenho podido mostrar que não sou apenas uma irmã chata que manda arrumar as roupas e por as coisas no lugar.
Uma das melhores sensações é quando vejo que, por exemplo, ele tirou aquela música no violão porque me viu escutando-na. Ele começou a se portar melhor na mesa pois eu dava um olhar fatal a princípio e só depois soube como dizer com jeitinho. É esse jeitinho, que eles me fazem aprender a ter, todos os dias. Uma lição que tento aprender e que quando consigo, recebo a melhor recompensa: Harmonia.
Natal passado eu recebi o melhor presente. Pode parecer estranho pra quem sabe como foi, eu não tinha forças pra levantar, pra comer ou tomar banho.. tudo era medo. Mas quando juntos na sala ficamos verdadeiramente juntos numa canção, no escuro só com as luzes da árvore (enorme), um dos piores dias se tornou um dos meus melhores natais.
Hoje eu vejo que esse presente já me havia sido dado há 17 anos... Dois presentes de uma só vez.

Agora, sentada aqui escrevendo sem pretensão alguma de conseguir ser fiel ao meu sentimento de irmã mais velha, vejo desse ângulo o resumo de minhas férias: Lucas lendo um livrinho que joguei com tudo em cima dele, a princípio recusado por ter um título 'gay', e Pedro no computador com cara séria lendo algo importante, sempre responsável dizendo ao Lucas que está na hora de se aprontarem para sair.
Me sinto com dois amigos no quarto. O melhor de tudo é que esses sim, me conhecem, sabem todos os meus humores e trejeitos e mesmo assim, posso dizer de boca cheia: são para sempre. E dias como esse não serão esquecidos, fica aqui a recordação, e no coração, a lembrança.

Um comentário:

Sônia C. Prazeres disse...

Emocionada, peço licença pro abraço. Imensamente feliz com esse amor brotado...enraizado nas lidas de
com-viver.
Beijinho imenso. TS